
O potencial bioeconómico da floresta é grande e importa explorá-lo com recurso à inovação. É isso que o Raiz faz, tendo criado as primeiras embalagens do mundo feitas de celulose moldada proveniente de fibras de eucalipto.
Assista aqui à entrevista de Carlos Pascoal Neto e Alexandre Gaspar do Instituto RAIZ.
Quando pensamos na floresta é inevitável pensarmos em árvores que purificam o ar, caminhadas, piqueniques ou simples momentos de calma a desfrutar da natureza. A floresta é tudo isto, sem dúvida – e já é tanto – mas a verdade é que é muito mais. Isto porque a floresta tem vindo a desempenhar um papel cada vez mais importante em termos económicos, mais concretamente na chamada bioeconomia.
É também aqui que o Raiz – Instituto de Investigação da Floresta e Papel tem vindo a destacar-se, nomeadamente na Investigação e Desenvolvimento (I&D) de inúmeros bioprodutos relacionados com as florestas.
Uma das inovações levadas a cabo no laboratório do Raiz é a celulose moldada proveniente de fibras de eucalipto, uma inovação à escala mundial e com patente já registada, que deu origem a um novo negócio, estando prevista a produção de 100 milhões de peças por ano.
Entre as várias aplicações possíveis desta celulose moldada estão embalagens alimentares, tabuleiros, taças e pratos, que através deste método passam a poder ser 100% produzidos a partir da fibra de eucalipto, substituindo o uso de plástico e reduzindo significativamente o impacto ambiental, pois em causa está um material orgânico e biodegradável, proveniente de florestas com gestão certificada.
Embalagens inovadoras, sustentáveis e 100% portuguesas
As embalagens fabricadas com celulose moldada são as únicas no mundo produzidas com fibras de Eucalytpus globulus, constituindo uma inovação alternativa aos plásticos e esferovites de origem fóssil usados, por exemplo, na restauração ou nos supermercados. Estes produtos inovadores foram desenvolvidos no âmbito da Agenda PRR “From Fossil to Forest”, em colaboração com universidades e centros e I&D nacionais. Atualmente, as novas embalagens estão a ser produzidas numa unidade instalada no complexo industrial da The Navigator Company em Cacia, Aveiro.

Além da celulose moldada, muitos outros bioprodutos e biocombustíveis têm vindo a ser desenvolvidos no laboratório do Raiz, com vista a apoiar a transição de um modelo económico linear e baseado em recursos fósseis, para um modelo circular, mais sustentável e apoiado em recursos renováveis, como os oriundos da floresta.
Pelas suas características, a indústria de pasta e papel é profundamente circular, permitindo que cerca de 90% dos produtos envolvidos nestas atividades sejam renováveis, com o benefício adicional de também os produtos finais serem recicláveis.

Que bioprodutos estão à nossa disposição? Estes são alguns dos bioprodutos que têm vindo a ser desenvolvidos no laboratório do Raiz, convertendo ideias sustentáveis em potenciais novos negócios:

Substituição de materiais de uso único
Novos materiais com o objetivo de substituir o plástico e o alumínio presentes em objetos descartáveis. São disso exemplo os talheres fabricados com fibras naturais, assim como as embalagens alimentares feitas de celulose moldada, permitindo a obtenção de artigos 100% produzidos a partir da fibra de eucalipto.

“Pele” de base florestal para a indústria automóvel
Material destinado a substituir o couro animal ou pele sintética em aplicações na indústria automóvel, vestuário ou acessórios de moda.

Produtos para farmacêutica, nutracêutica e cosmética
Desenvolvimento de compostos extraídos das plantas, das folhas e da casca do eucalipto, para integração em produtos farmacêuticos, nutracêuticos (como suplementos alimentares, por exemplo) ou cosméticos.

Biocombustíveis
Trabalhando em alternativas aos combustíveis fósseis, o Raiz está envolvido na implementação do conceito de biorrefinaria na indústria de pasta e papel, contando com a sua rede de parceiros académicos e de I&D. Nesse sentido, tem vindo a apostar no desenvolvimento de biocombustíveis, que podem ser produzidos a partir dos sobrantes da exploração de biomassa ou como subprodutos do processo industrial.

Fertilizantes
Desenvolvidos pelo Raiz a partir de subprodutos do processo industrial, estes fertilizantes inovadores destinam-se a restituir à floresta os nutrientes retirados durante a exploração da madeira e biomassa, contribuindo para a preservação do ecossistema.

Uma boa combinação
Portugal reúne condições consideradas de exceção para se destacar ainda mais no âmbito da bioeconomia, desde logo porque, de acordo com os dados mais recentes da Carta de Ocupação e Uso do Solo (COS2018), a floresta é a principal ocupação do solo em Portugal, correspondendo a 39% do total do solo nacional, com mais de 3,4 milhões de hectares.
Além disso, um forte indicador do contributo da floresta nacional para a economia pode ser encontrado na balança comercial, já que, só em 2023, o setor contribuiu com exportações no valor de mais de 6 mil milhões de euros, representando cerca de 8% do total das exportações portuguesas. Entre estas, cerca de 5% são atribuídas à pasta e papel, muito baseada na floresta de eucalipto, a qual encontra em Portugal boas condições em termos de clima e solo para se desenvolver.

A floresta tem ainda um forte impacto positivo na criação de emprego – o que acaba por ter um reflexo económico evidente – contribuindo para a fixação das populações e empresas em áreas rurais, contrariando o despovoamento do interior.
Estima-se que, atualmente, o setor florestal reúna cerca de 20 mil empresas, as quais são responsáveis pela criação de mais de 100 mil empregos, muitos destes altamente qualificados – desde a silvicultura até ao comércio de base florestal, passando pela indústria.
Neste sentido, o contributo da floresta para a reabilitação do interior é crucial, não só porque favorece a permanência das pessoas, mas também porque ajuda a combater as consequências da desertificação, nomeadamente, a degradação dos solos, o abandono de terras e a reduzida produtividade das mesmas.
De salientar que este é um problema especialmente observado em Portugal, que é o país europeu com maior percentagem de floresta privada (98%), sendo 13,8% correspondente a terrenos comunitários e baldios. A questão é que grande parte destas terras corresponde a parcelas de reduzida dimensão, detidas por pequenos proprietários, muitos dos quais ausentes ou, até, desconhecedores de que possuem estes terrenos.
Como resultado, torna-se difícil implementar planos de gestão florestal adequados. Além disso, como alertam os especialistas, o abandono da floresta conduz inevitavelmente à sua degradação e, posteriormente, ao seu desaparecimento, devido à proliferação de espécies.


A solução em harmonia com a natureza
Além de contribuírem para a proteção dos solos, sabe-se que as florestas plantadas, de produção, e bem geridas são, cada vez mais, uma das soluções centrais para ajudar a enfrentar os desafios trazidos pelas alterações climáticas e pela necessidade de transição para o modelo bioeconómico. Isto porque os produtos de base florestal são naturais, renováveis, recicláveis e biodegradáveis, constituindo uma alternativa aos de origem fóssil. Resultam daqui inúmeros benefícios ambientais, nomeadamente, uma redução da emissão de gases com efeito de estufa e um uso eficiente dos recursos.

A riqueza da floresta é imensa e, com a introdução de inovação tecnológica desenvolvida com o objetivo de preservar a sustentabilidade ambiental, pode mesmo tornar-se quase infinita. Apoiar a floresta, para que esta continue a apoiar a saúde e o bem-estar das populações e da vida selvagem, contribuindo em simultâneo para o desenvolvimento de uma bioeconomia mais equilibrada e centrada na preservação dos ecossistemas, não só é possível como é já um compromisso de diversos organismos, como o Raiz. É esse, afinal, o tesouro escondido nas nossas florestas.