Este artigo foi desenvolvido no âmbito da conferência “Cultura e Sustentabilidade” que se irá realizar a 18 de outubro no Centro de Congressos de Aveiro.
Sandra Silva
Diretora de Resíduos de Veolia Portugal
O Grupo Veolia, parte de um grupo multinacional, fundado há 167 anos, “(…) concebe e implementa soluções transformadoras, úteis e eficientes para a gestão da água, resíduos e energia”.
Numa conversa com Sandra Sílva, diretora de Resíduos do Grupo, ficamos a conhecer melhor a estratégia do Grupo e planos para um futuro cada vez mais ecológico, numa aposta continuamente inovadora da organização.
O que é a Veolia Portugal?
A Veolia Portugal faz parte de um grupo multinacional, o Grupo Veolia, fundado em 1857 e que é hoje uma referência, líder no seu mercado, para a transformação ecológica. Com cerca de 218.000 colaboradores nos cinco continentes, o Grupo Veolia concebe e implementa soluções transformadoras, úteis e eficientes para a gestão da água, resíduos e energia, com um propósito claro de conciliar o progresso da humanidade e o planeta, com foco na despoluição, eficiência e regeneração e descarbonização.
Em concreto:
EFICIÊNCIA E REGENERAÇÃO DE RECURSOS: a Veolia concebe sistemas de energia verde, valoriza resíduos em energia e em novos materiais e promove a reciclagem e reutilização de águas residuais e de plásticos.
DESPOLUIÇÃO: da água, do solo, do ar… A Veolia oferece uma gama diversificada de soluções para tratar todos os tipos de poluição. O Grupo é um player reconhecido no tratamento de resíduos perigosos e de solos degradados e ainda um especialista em qualidade do ar interior.
DESCARBONIZAÇÃO: a Veolia concebe soluções para o clima, descarbonizando os nossos modos de vida e de produção e adaptando-os às consequências da disrupção climática.
Em Portugal, o Grupo Veolia está presente desde 1992, com atividades de gestão de água, energia e resíduos, em clientes industriais, municipais e setor terciário. Hoje tem presença de norte a sul do País, e também na ilha Terceira, com um total de colaboradores já superior a mil.
“Na área dos resíduos é hoje responsável pela gestão de mais de 600 mil toneladas de resíduos“
Na área dos resíduos é hoje responsável pela gestão de mais de 600 mil toneladas de resíduos, tendo como principais referências no nosso país: A exploração da Central de Valorização Energética da LIPOR; a gestão de resíduos industriais e comerciais através dos seus 3 centros operacionais localizados em Santa Maria da Feira, Loures e Silves; a recolha de resíduos urbanos, incluindo a seletiva de biorreśiduos, limpeza urbana e gestão de ecocentro municipal em Aveiro.
Já em 2024, passou a integrar também a atividade de reciclagem de plástico, por via da aquisição da empresa Micronipol, localizada em Ourém. Em fase de conclusão, já aprovada pela Autoridade da Concorrência, está ainda a aquisição da empresa Ambitrevo, a operar na área da valorização orgânica.
Enquanto diretora de resíduos da Veolia Portugal como vê a importância de uma empresa como estas na preservação do equilíbrio ambiental e na promoção de um modo de vida mais sustentável?
Apesar de contar já com mais de 170 anos de existência no mundo, e mais de 30 em Portugal.
“A verdade é que tanto o Grupo Veolia como a Veolia Portugal têm na sua génese a gestão de recursos essenciais – água, energia, resíduos -, e por isso uma forte ligação e um considerável impacto na preservação do equilíbrio ambiental.“
É certo que os conceitos evoluíram ao longo dos tempos. Naturalmente que no século XIX os temas do acesso à água e à energia eram prementes e que os temas da poluição ou das alterações climáticas só vieram mais tarde, mas ao manter no centro da sua estratégia a gestão da água, energia e resíduos, e ao procurar sempre inovar e implementar as melhores práticas para a sua gestão, o Grupo conseguiu posicionar-se como referência no setor ao longo dos tempos.
Importa no entanto salientar que essa ligação e esse impacto na preservação do equilíbrio ambiental foram especialmente reforçados em 2019, ano em que o Grupo reuniu os seus diversos stakeholders e definiu (e comprometeu-se com!) o seu propósito: a transformação ecológica.
Mas é ainda mais do que isso. É que ao serviço da transformação ecológica, a Veolia compromete-se em alcançar um novo equilíbrio entre os aspetos económicos, sociais e ambientais e de governance (ESG). Este compromisso guia a forma como apoia os seus clientes, desenvolvendo as soluções ambientalmente mais sustentáveis, mas também mais eficazes em termos técnicos e financeiros, e contribuindo com um impacto positivo nas pessoas e regiões onde opera.
Como encara a Veolia a questão dos resíduos mais difíceis?
A cada 4 anos, o Grupo Veolia define o seu programa estratégico, com base na auscultação dos vários stakeholders identificados no seu Propósito e Desempenho Multifacetado.
Para 2024-2027, o Grupo Veolia identificou como prioritário acelerar a transformação ecológica e ajudar os seus clientes industriais e municipais a serem mais sustentáveis, através da implementação de soluções concretas, realistas e replicáveis, para despoluir, descarbonizar e regenerar os recursos.
O conceito dos “mais difíceis” é bastante acarinhado pela Veolia, porque é quando conseguimos resolver as formas de poluição mais difíceis que estamos realmente a transformar. Vender um ativo poluente não é transformar, convertê-lo num ativo descarbonizado, capaz de regenerar resíduos em recursos, isso sim é transformar.
O tratamento de formas de poluição mais difíceis é uma das áreas que o Grupo Veolia promete acelerar em várias dimensões: na água, o tratamento de substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) ou microplásticos; nos resíduos, tudo o que esteja relacionado com soluções de circularidade e inovação ao nível da reciclagem de baterias de lítio, e implementar em larga escala a reciclagem de plásticos, na qual a Veolia é já hoje líder com mais de 40 instalações de reciclagem; na atmosfera, transformando indústrias pesadas, grandes emissoras de carbono e equivalentes, em exemplos de descarbonização, quer por via da incorporação de energias renováveis de base local, quer por via da captura de carbono.
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Descarbonização nacional é uma meta para a Veolia?
No centro do modelo de desempenho do Grupo Veolia, a descarbonização é um poderoso motor e uma fonte de criação de valor a longo prazo para o Grupo e para os seus clientes.
Esta abordagem pragmática e orientada para a ação permite ao Grupo Veolia apresentar progressos significativos na consecução dos seus objetivos. Particularmente, no que diz respeito ao programa de 1,6 mil milhões de euros para converter ativos de produção de energia baseados em carvão para energias menos intensivas em carbono ou o desenvolvimento de energia descarbonizada de base local.
A Veolia foi o primeiro Grupo a apresentar emissões evitadas para os seus clientes que fazem parte do Scope 4, que apoia ativamente a nível global para acelerar a transformação ecológica e, particularmente, a descarbonização das atividades industriais e económicas. Em 2023, a Veolia contribuiu para evitar 13,8 Mt de emissões de CO2eq.
No geral, as metas de redução de emissões da estratégia climática validada do Grupo Veolia estão alinhadas com uma trajetória de 1,5°C estabelecida pelo Acordo de Paris. Estas metas fazem parte do já referido programa estratégico para 24-27:
- Redução de 50% nas emissões de Scope 1 e 2 até 2032, nomeadamente através da aceleração dos nossos investimentos para eliminar gradualmente o carvão na Europa e capturar biogás nos nossos locais de armazenamento de resíduos
- Aumento de 50% nas emissões evitadas para os nossos clientes (Scope 4) até 2030
- Alcance da neutralidade carbónica até 2050
Este plano estratégico aplica-se a todos os países onde a Veolia está presente, não sendo Portugal exceção, que se comprometeu também com as equivalentes metas a nível local.
Recentemente adquiriram a Micronipol, pode contar-nos do que se trata e de que forma vai contribuir para a sustentabilidade nacional?
A Micronipol, presente no setor há mais de 20 anos, produz anualmente cerca de 20 mil toneladas de plástico reciclado de alta qualidade, a partir de resíduos de plástico industriais e domésticos, que são reintroduzidos nas cadeias produtivas de várias indústrias, contribuindo para reduzir o consumo de matérias-primas virgens.
A 31 de maio passado, 100% do capital da Micronipol passou a ser detido pela Veolia Portugal, sendo esta aquisição perfeitamente alinhada com o novo programa estratégico 24-27. Em particular, vem reforçar a presença da Veolia em Portugal no setor dos resíduos, onde hoje já desenvolve atividades de recolha, transporte, reciclagem e valorização de resíduos, acrescentando agora a vertente da reciclagem de plásticos.
A aceleração e a implementação em larga escala da reciclagem de plástico é uma prioridade de investimento para o Grupo Veolia para os próximos anos, contando já hoje com mais de 40 centros de reciclagem, na sua rede mundial PlastiLoop. A integração da Micronipol que hoje se concretiza vai permitir-nos colocar Portugal também no mapa desta rede e assim acelerar a economia circular do plástico no nosso país, com benefícios para a descarbonização das nossas indústrias.
O plástico é o grande inimigo do século XXI?
Quando surgiu por volta de 1950, foi absolutamente revolucionário e reconhecido o impacto positivo que teve (e ainda tem) em muitas dimensões da nossa vida, da área hospitalar à vida doméstica, trazendo produtos mais leves, resistentes e flexíveis.
O problema do plástico reside na forma excessiva como foi banalizado (tornando-se um descartável de grande utilização, o que foi nos últimos anos alvo de forte legislação no sentido de contrariar esse uso generalizado de descartáveis de plástico) e na forma como é feita a sua deposição depois de uso (ainda persistindo taxas de reciclagem baixas e respetiva recirculação de materiais).
Neste tema da reciclagem do plástico são grandes as oportunidades que temos pela frente e a Veolia – como já tivemos oportunidade de referir anteriormente – quer ser parte ativa dessa transformação. Os processos e as tecnologias de tratamento e reciclagem do plástico estão em constante desenvolvimento, o que significa que cada vez mais tipologias de plástico podem ser recicladas e reintegradas em cadeias produtivas, o que associado ao ecodesign e a um maior envolvimento da cadeia de valor vai nos próximos anos transformar este problema numa oportunidade para tornarmos o plástico um produto verdadeiramente circular.
Podemos então assumir a Veolia como um super herói nacional?
Não, de todo, nem é esse o nosso posicionamento. Somos simplesmente um veículo, por via das soluções que propomos, para que os verdadeiros herois façam realmente a diferença:
➡️ os nossos clientes, que abraçam transformações profundas dos seus processos, para que estes sejam menos poluentes, mais descarbonizados e mais circulares.
➡️ os membros das comunidades onde atuamos, que se envolvem, que se predispõem a mudar comportamentos e a agir de forma mais sustentável.
A este propósito, referimos o barómetro que realizamos a cada dois anos, um estudo de opinião exclusivo e à escala global sobre os temas da transformação ecológica. Da edição de 2024 deste estudo de opinião ressalta uma crescente preocupação com a sua saúde e uma perceção de que os desafios ambientais representam uma ameaça às suas condições de vida. E conscientes desses riscos, pedem ação: afirmam a sua prontidão para aceitar as mudanças necessárias para ampliar as soluções existentes para combater as mudanças climáticas e a poluição.
Como retrata o Ecocentro Municipal de Aveiro?
“O Ecocentro Municipal de Aveiro é, a nosso ver, um excelente exemplo de inovação e de ação em prol da sustentabilidade do Município de Aveiro (…)”
O Ecocentro Municipal de Aveiro é, a nosso ver, um excelente exemplo de inovação e de ação em prol da sustentabilidade do Município de Aveiro, que quando lançou o concurso incorporou nos critérios de avaliação preocupações verdadeiramente diferenciadoras, como a comunicação e sensibilização da população.
Mais do que ser um local onde as pessoas podem entregar os seus resíduos em condições ambientalmente seguras, pretende sobretudo assumir-se como um espaço da e para a comunidade com uma programação durante todo o ano, para escolas e famílias, que inclui visitas guiadas e também, no último sábado de cada mês, uma agenda repleta de iniciativas como Repair Cafés, Workshops, Mercados de trocas, palestras e exposições.
E como os resultados, quer do volume de resíduos entregues, quer da participação da população nas ações, têm sido sempre em crescendo, somos levados a concluir que foi uma boa aposta do Município em diferenciar a oferta de gestão de resíduos.
Podemos afirmar que é um exemplo para todos os municípios portugueses que poderia ser replicado?
Consideramos que é, dois anos passados, um bom exemplo de envolvimento da comunidade na gestão sustentável dos resíduos, atestado até por um reconhecimento público recente, os prémios “Cidade+”, atribuídos pela Associação Limpeza Urbana, na categoria Participação Pública e Cidadania, que distingue a iniciativa ou projeto que demonstre maior capacidade de envolvimento dos cidadãos em ações de limpeza ou para a redução de produção de resíduos e da pegada ecológica.
Podemos enquadrar Aveiro como uma cidade no ranking das melhores práticas de sustentabilidade?
Desenvolvemos atividades de gestão de resíduos desde 2018 no Município de Aveiro e durante este período temos visto com grande entusiasmo os variadíssimos desafios de sustentabilidade e inovação que a Câmara Municipal lança, a nós e a outros parceiros, de forma permanente. Um dos exemplos emblemáticos foi a iniciativa Aveiro Tech City, utilizando a tecnologia como meio para melhorar a qualidade de vida de todos os cidadãos, ajudando as entidades de gestão a recolher e partilhar informação sobre novas formas de gerir a cidade, desde a mobilidade, educação, cultura e ambiente. Para nós foi muito positivo participar nessa iniciativa, que nos aproximou dos vários stakeholders e resultou em projetos colaborativos muito interessantes.
Também na vertente dos resíduos, o projeto da recolha seletiva de biorresíduos no canal HORECA tem sido uma oportunidade para testar novos processos e estreitar relações com a comunidade local em prol do ambiente, o que pensamos ser bastante inovador.
São apenas alguns, de muitos outros exemplos, que na nossa opinião evidenciam o posicionamento do Município em matéria de sustentabilidade e sobretudo de colaboração para a sustentabilidade, mobilizando diferentes públicos em prol do bem comum.
Aveiro Capital da Cultura 2024 é uma excelente oportunidade para conhecermos estas práticas aveirenses. Quais destas práticas nos pode destacar que contribuem para um equilíbrio num modo de vida cada vez mais sustentável?
Para além dos já referidos projetos do Ecocentro e da recolha seletiva de biorresíduos, que são a nosso ver dois bons exemplos de como envolver a comunidade local na conciliação da qualidade de vida e desenvolvimento económico e social com a proteção do ambiente, achamos importante destacar ainda a forte aposta que Aveiro faz num pilar crucial: a educação das gerações futuras.
Enquanto parceiros da gestão de resíduos do Município, somos desafiados a dinamizar em cada ano ações de educação ambiental, criadas à medida e sempre diferentes, para os mais jovens, percorrendo as várias escolas do concelho. Não raras vezes, o ambiente e a cultura cruzam-se nestes projetos, usando a música, a expressão plástica, a escrita ou até o teatro como alavancas de abordagem.
Esta oferta de educação é, todos os anos, complementada com o evento EcoAventura, que durante uma semana, num dos principais jardins da cidade de Aveiro, junta os temas do ambiente e da sustentabilidade a uma oferta de múltiplas atividades lúdicas e culturais. A Veolia é desde o início parceira desta iniciativa e reconhece o seu caráter diferenciador e agregador em prol da transformação ecológica.