A Natureza e o Mundo em que vivemos são parte da mesma paixão pela Vida?

Uma iniciativa com

Este artigo foi desenvolvido no âmbito da conferência “Cultura e Sustentabilidade” que se irá realizar a 18 de outubro no Centro de Congressos de Aveiro.

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José Ribau Esteves

Presidente da Câmara Municipal de Aveiro

José Ribau Esteves, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, mas principalmente um ser humanos que vive em total equilíbrio com a Natureza, numa entrevista que antecede a grande conferência sobre sustentabilidade, no dia 20 de Setembro, durante a manhã, em Aveiro, convida os munícipes e visitantes a assistir e a participar, tendo como pano de fundo esta  cidade que abraça diariamente a inovação, o futuro sem nunca esquecer o modo sustentável de viver… E presidente explica de que forma.


Sem dúvida. Diria que a Natureza e o Mundo em que vivemos são componentes da mesma paixão pela Vida, nas suas múltiplas vertentes.


Digo muitas vezes que o sal do Planeta Terra é o Ser Humano. É a riqueza da vida humana, com as suas idiossincrasias, que permite o desenvolvimento do Mundo, a descoberta de novas formas de ser e de fazer, mas também que nos lança obstáculos e desafios novos a cada dia.

Vivemos o tempo da necessidade absoluta de cuidarmos melhor da sustentabilidade, nas suas três dimensões, ambiental, económica e social, e devemos fazê-lo de forma descomplexada, percebendo que é na relação do Homem com os restantes seres vivos e outros fatores naturais do planeta, que se chega ao verdadeiro equilíbrio adequado a cada tempo.

Aveiro é um bom exemplo dessa capacidade de congregar, no mesmo espaço, a complexa e sensível fauna e flora com a vida humana. Em Aveiro, a palavra sustentabilidade tem muitos séculos, porque desde que decidimos viver neste território que, ano após ano, somos desafiados a gerir com responsabilidade a nossa relação com a natureza. Por isso, concordo absolutamente com o que disse: a cidade de Aveiro nasceu virada para a sustentabilidade.


Em termos ambientais, a qualificação do Cais do Sal foi uma das mais recentes e importantes obras para o futuro da Cidade e do Município de Aveiro, (…)”

Em termos ambientais, a qualificação do Cais do Sal – onde recentemente atracou o Navio-Escola Sagres, durante o Dia da Marinha 2024 – foi uma das mais recentes e importantes obras para o futuro da Cidade e do Município de Aveiro, garantindo que a zona central da nossa Cidade está totalmente protegida e preparada para o aumento do nível médio das águas do mar, fruto do impacto das alterações climáticas.

Os investimentos regulares da Câmara Municipal de Aveiro na capacitação do sistema de comportas e eclusa, que protegem a Cidade de Aveiro das águas das marés, assim como na qualificação das pontes e dos canais urbanos, têm uma expressiva dimensão financeira, sendo que o próximo investimento a este nível é o prolongamento do Canal de São Roque, com cerca de 3,5 milhões de euros.

A nossa ação está focada em reforçar a aposta na prevenção e no caminho para a sustentabilidade, com especiais medidas na dimensão ambiental, e não apenas nas ações mitigadoras de problemas.

São disso exemplo o investimento de cerca de 10 milhões de euros na aquisição de um novo Ferryboat 100% elétrico, a que demos o nome de “Salicórnia”. Com esta embarcação – que foi construída em Portugal e está em plena operação desde fevereiro deste ano, fazendo a travessia entre o Forte da Barra e São Jacinto –, reduzimos a emissão de 300 toneladas/ano de CO2, libertadas pelo antigo ferryboat para a atmosfera, e diminuímos em cerca de 30% o consumo energético.

Os transportes públicos rodoviários 100% elétricos são outra das apostas estratégicas da Câmara Municipal de Aveiro (CMA). Ao dia de hoje, a empresa concessionária de transportes em Aveiro (Transdev / AveiroBus) já tem 60% da sua frota sem emissão de dióxido de carbono, representando menos 800 toneladas/ano de CO2.

Destaque também para a alteração dos motores a combustão dos moliceiros que fazem os passeios turísticos nos canais urbanos de Aveiro, para motores movidos a energia elétrica, um projeto cuja concretização é feita por fases, estando o sistema de carregamento já instalado, e que vai corresponder a menos 400 toneladas/ano de CO2.

A tudo isto junta-se a requalificação urbana do Município, que levamos a cabo há cerca de seis anos, com muitos investimentos de elevado montante. A Câmara de Aveiro tem investido na renovação e qualificação do espaço público, com novas áreas de lazer e de estar, aumentando as zonas pedonais, e tem dado prioridade aos modos suaves de transporte, nomeadamente à bicicleta, que também ganhou uma nova vida com a nossa BUGA 2.


A resposta a esta pergunta dava para uma entrevista muito longa e completa. Deixo notas sumárias. Evoluímos e melhorámos imenso nas diversas áreas de atuação, nomeadamente nesta de que estamos a falar: a sustentabilidade ambiental, económica e social. No entanto, em primeiro lugar, devo destacar a recuperação financeira da Câmara Municipal de Aveiro. Foi um trabalho da maior importância e o principal catalisador de todas as conquistas durante este período.

Aveiro era, em 2013, um dos Municípios mais endividados do País, com mais de 150 milhões de euros de dívidas a cerca de 1.200 empresas e cidadãos. Em apenas quatro anos, saímos de uma situação de défice excessivo, reduzimos a dívida para 80 milhões de euros, saldámos compromissos com mais de 20 anos e voltámos à nossa autonomia e atividade plena, com a promoção do dinamismo económico, a capacidade de cuidar do espaço público – que é de todos – e a resposta social, cultural e ambiental que nos é característica.

A capacitação financeira e organizacional da CMA permitiu que, ao longo dos últimos seis anos (2018 – 2024), o espaço público fosse alvo de uma grande transformação, com obras muito importantes como a qualificação do Cais do Sal, do Rossio e da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, a renovação da Avenida 25 de Abril, a qualificação da antiga Estação da CP e do Edifício Fernando Távora (agora Edifício ATLAS Aveiro), entre muitas outras por todo o Município.

Tenho também de referir a Educação, área prioritária em que Aveiro foi liderante nos últimos anos. A operação de requalificação e ampliação dos edifícios escolares de Jardim de Infância e de 1.º Ciclo do Ensino Básico está em fase final, com um investimento que se vai cifrar em cerca de 50 milhões de euros até ao fim de 2025.

Outras áreas como a Saúde, o Desporto, a Habitação Social, o Marketing Territorial, a cooperação com Associações e Juntas de Freguesia, receberam fortes investimentos que colocam o Município de Aveiro num patamar de qualidade muito superior ao que tínhamos há 10 anos. 


Em termos de inovação, gostaria de destacar o passo imenso que demos com a implementação do projeto Aveiro STEAM City, um programa financiado pelos Fundos Comunitários, através do Urban Innovative Actions, em 4,9 milhões de euros e que permitiu implementar um programa dedicado às áreas STEAM (Science; Technology; Engineering; Arts; Maths / Ciência; Tecnologia; Engenharia; Artes; Matemática) nos Estabelecimentos de Ensino Público do Município de Aveiro, do 1.º Ciclo do Ensino Básico ao Ensino Secundário. Este projeto induziu a nova política da Câmara de Aveiro que denominamos “Aveiro Tech City” e inclui ainda programas de fixação e retenção de talento nestas áreas, que estão a permitir a importantes empresas de base tecnológica recrutar jovens recém-licenciados em Aveiro para desenvolverem os seus projetos, entre muitos outros projetos, também participados pela Universidade de Aveiro, Instituto de Telecomunicações, e várias empresas privadas, com um lugar especial para a Altice Labs.

Aveiro é uma Cidade e um Município que respira e vive inovação, que possibilita estudos de caso com diferentes objetivos, como por exemplo medir a qualidade do ar, que dá oportunidade às empresas de realizarem os seus testbed de base 5G em espaço urbano e, o mais importante de tudo, que contribui de forma objetiva para aumentar a qualidade de vida dos nossos concidadãos.

Encaramos, por isso, com naturalidade os resultados dos CENSOS 2021, que dão conta de um crescimento da população em Aveiro na ordem dos 3,2% na última década (2011 – 2021), de um aumento em 6,7% da população com ensino superior, de um aumento do número de edifícios novos em 1,1% e de um crescimento do número de trabalhadores por conta de outrem em 4,1%. E os indicadores dão nota que continuamos a crescer.

Que podemos esperar encontrar em Aveiro nos próximos 10 anos?

O meu desejo é que a CMA, a Cidade e o Município de Aveiro continuem a crescer e a desenvolver-se com qualidade, a ser liderantes com expressão regional, nacional e europeia, como têm sido na última década. Que sejam fortes na capacidade de resposta aos problemas das pessoas, no aproveitamento das oportunidades de financiamento do investimento, na visão e nas opções de investimento integrado, com cuidados diferenciadores nas áreas do ambiente, da educação, da inovação e da cultura e, sobretudo, que a CMA continue a ser bem gerida, para que não tenhamos de voltar a hipotecar o nosso futuro, por má gestão, como aconteceu nas duas décadas anteriores à que agora terminamos.
É minha convicção que assim vai ser, embora, nos dias de hoje, com a volatilidade do nosso Mundo, é muito arriscado fazer perspetivas tão alargadas.

Como vê a aplicabilidade da Inteligência Artificial na acessibilidade dos cidadãos a cidades cada vez mais sustentáveis?

A Inteligência Artificial (IA) veio para ficar e estará cada vez mais presente na vida das empresas, das instituições e dos cidadãos. É muito importante que tenhamos consciência disto e que nos adaptemos o mais rápido quanto possível. Quem não o fizer, vai ficar para trás.
Como em tudo, a IA tem coisas muito boas e coisas muito más, sendo que, de forma global, o contributo que pode dar para o aumento da qualidade de vida e para a sustentabilidade dos territórios é imenso.
Como dizia há pouco, o Aveiro STEAM City permitiu instalar na Cidade sensores ambientais que nos permitem avaliar a qualidade do ar e, com isso, emitir alertas à população, para se protegerem numa determinada zona ou durante um determinado período. Isto é algo muito bom. O próprio Ferryboat 100% elétrico “Salicórnia” é produto do desenvolvimento tecnológico e desse futuro de IA, que nos ajuda a ser mais ecológicos, mais inteligentes na gestão, mais eficazes e produtivos.


Aveiro, Capital Portuguesa da Cultura 2024, que vivemos e celebramos durante todo este ano, é parte do resultado de um trabalho muito elaborado e profundo que se iniciou em 2016, com o Plano Estratégico para a Cultura para o período 2019-2030, e que teve um relevante contributo com o trabalho da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027.
Estruturámos o ano por quatro trimestres de programação diferenciada, cada um com temas específicos: Cultura e Identidade, Cultura e Democracia, Cultura e Sustentabilidade (no trimestre atual) e Cultura e Tecnologia (no último trimestre do ano). Estes temas são abordados a partir de sete linhas de programação, cada uma com conteúdos criados à medida de Aveiro 2024: Artes Performativas, Exposições, Cinema, Literatura, Espaço Público, Gastronomia e Pensamento. Estas áreas formam a espinha dorsal da programação de Aveiro Capital Portuguesa da Cultura 2024.
A programação da Capital Portuguesa da Cultura inclui o nosso calendário de eventos com programa enriquecido, que já contou com a Feira de Março, a Maratona da Europa, o Dia da Marinha, o Feriado Municipal, o Festival dos Canais e o Festival Dunas de São Jacinto. Até ao final do ano, teremos ainda a Aveiro Tech Week (30 de setembro a 06 de outubro), a Nova Agrovouga (15 a 24 de novembro) e o Boas Festas em Aveiro (01 de dezembro de 2025 a 13 de janeiro de 2025).
A programação inclui também estreias nacionais e eventos únicos em diferentes áreas, com a cooperação com muitas entidades públicas e privadas, querendo deixar uma nota especial para a relação de cooperação e partilha da programação de Aveiro Capital Portuguesa da Cultura 2024 com a dos 50 anos da Universidade de Aveiro e a dos 200 anos da Vista Alegre.
Aproveito o ensejo para convidar todos a visitarem Aveiro nestes últimos meses de Capital Portuguesa da Cultura, que contará com espetáculos e iniciativas únicas e inesquecíveis.


Nesta terceira etapa lançamos o debate sobre a sustentabilidade, alicerçado em três pilares: o ambiente, a economia e a sociedade.
Aveiro – Município e Região – está ligado ao Mar e à Ria desde sempre e, por isso, habituou-se a cuidar da sustentabilidade como forma de vida e equilíbrio entre os diversos ecossistemas e habitats pré-existentes, sempre com o Homem no lugar central do ecossistema.
Do Mar à Ria, dos Moliceiros à Mobilidade Sustentável, do Turismo de Natureza ao Turismo Patrimonial, da vida quotidiana dos Aveirenses, à Economia potenciada pelos bons efeitos do desenvolvimento turístico, industrial e de outras áreas da atividade económica, serão os temas em reflexão e debate. Deixo, por isso, o convite a todos os que puderem juntar-se a nós, no dia 18 de outubro, a partir das 09h30, no Centro de Congressos de Aveiro, numa conferência organizada pela Câmara Municipal de Aveiro em colaboração com a RTP.