Apesar de ser a capital do motor económico da Europa, Berlim é uma cidade bem mais cultural do que industrial, com uma vasta oferta artística e uma herança histórica que importa explorar.
Já passaram mais de 30 anos desde a queda do Muro de Berlim, mas a cidade, na sua essência, continua a estar marcada pela divisão definida no pós Segunda Guerra Mundial, que criou um enclave político e capitalista – a Berlim Ocidental – em plena Alemanha de Leste. Os resquícios do muro e os símbolos dessa divisão que separou famílias, amigos e modos de vida, fazem parte do roteiro obrigatório de qualquer visitante.
A sua face mais visível é a chamada East Side Gallery, uma enorme galeria de arte urbana a céu aberto que utiliza parte do antigo muro como tela. Nela pintaram mais de uma centena de artistas de 21 países, desde 28 de setembro de 1990, dia em que foi oficialmente inaugurada com este estatuto. Um deles foi o russo Dmitri Vrubel, autor de uma das obras de arte mais fotografadas pelos visitantes – o famoso beijo socialista entre Leonid Brezhnev e Erich Honecker, então líderes da União Soviética e do República Democrática Alemã, uma reprodução de uma fotografia tirada durante a celebração do 30º aniversário da RDA. Outra obra marcante é “La Buerlinica”, uma adaptação da “La Guernica”, de Picasso, que serviu para denunciar a violência em Berlim durante a Guerra Fria. E existem muitas outras para descobrir e abraçar ao longo de quase quilómetro e meio de extensão.
No que respeita à arte dentro de quatro paredes, um destino incontornável da cidade é o antigo terminal ferroviário Hamburger Bahnhof, transformado em museu de arte moderna e contemporânea desde meados dos anos 90 do século passado. O acervo inclui obras dos ícones da pop art Andy Warhol e Roy Liechenstein, mas também dos mestres do abstrato Cy Twombly e Robert Rauschenberg. O multifacetado Joseph Beuys, um dos mais influentes artistas alemães do século XX, tem direito a uma ala inteira do edifício só para si.
Outra coleção impressionante é a da Neue Nationalgalerie, que reabriu em 2021, depois de seis anos de obras de conservação. Coleção e não só: o próprio edifício, desenhado por Mies Van der Rohe – o arquiteto que cunhou a expressão “menos é mais” – é um hino ao minimalismo e à rectilinearidade. Inaugurado em 1968, símbolo de modernidade e renascimento cultural da Alemanha Ocidental, foi o último projeto de Van der Rohe e, curiosamente, o único edifício que assinou na sua cidade-natal no período pós Segunda Guerra Mundial. No interior, além de interessantes exposições temporárias, dedicadas à relação da arte com temas da vida em sociedade, encontramos na coleção permanente obras dos mais importantes artistas do século XX, incluindo Francis Bacon, Max Beckmann, Salvador Dalí, Edvard Munch, Pablo Picasso e Andy Warhol.
Outro dos pontos importantes de concentração de arte moderna em Berlim, o Museu Berggruen, encontra-se atualmente encerrado – prevê-se que a reabertura aconteça apenas em 2025. Mas parte da sua importante coleção pode ser visitada no vizinho Sammlung Scharf-Gerstenberg, onde pontificam trabalhos de Alberto Giacometti, Pablo Picasso, Paul Klee, Henri Matisse e Paul Cézanne, entre outros. A escolha não é por acaso: existe um ponto de contacto entre as duas coleções, a do Berggruen e a do Sammlung Scharf-Gerstenberg, o surrealismo.
Surreal será, também, pensar que é possível abraçar toda a oferta de arte moderna em Berlim em apenas uma visita. É que a juntar aos museus, há inúmeras galerias, maiores ou menos, com artistas mais ou menos conceituados, mas que contribuem para tornar a cidade um poço efervescente de cultura em todas as épocas do ano. Apesar dessa continuidade, a melhor altura para visitar Berlim é, sem dúvida, o início do verão, para aproveitar os eventos e a vida no exterior – é uma cidade ciclável e com muitos espaços públicos que convidam a longos passeios
Há tanto para fazer em Berlim que o melhor é marcar viagem com muita antecedência, para definir prioridades. Abrace a enorme oferta cultural desta cidade com a TAP, que faz voos diretos para Berlim durante todo o ano. E quando escolher as datas, se possível inclua na estadia o primeiro domingo do mês, dia em que vários museus da cidade abrem as portas gratuitamente para todos os visitantes.